No aglomerado dos últimos dois anos, três provisões mais consumidos pelos brasileiros tiveram subida de mais de 50% no valor final de venda nos supermercados. O resultado que mais aumentou ao longo deste período foi o tomate, que registrou subida de 67,88%. Na sequência, aparecem o feijão-preto (56,16%) e a batata-inglesa (50,58%).
O levantamento foi feito pelo economista Matheus Peçanha, da Instauração Getúlio Vargas (FGV). Nele, os itens que compõem os tradicionais pratos-feitos, servidos nos restaurantes pelo país, apresentou subida acumulada de 42,19% nos últimos dois anos.
Segundo o economista, o país teve contratempo com os provisões, por conta de sucessivos problemas climáticos que afetaram a produção. “O primeiro foi a seca em 2020/2021. Depois, geadas. E, agora, chuva em excesso”, destaca. Peçanha diz também que essas condições do clima impactaram em sequência na produção agrária pátrio. Apesar de estar em subida, o economista espera que, ao menos no caso do feijoeiro, possa possuir uma melhora nos preços.
“São sucessivos choques climáticos que estão piorando as condições de oferta e gerando pressão nos preços. Cada hora bate um choque dissemelhante. O problema do feijoeiro foi a seca do ano pretérito e final do ano retrasado, em decorrência do efeito da La Niña, que afetou grãos e proteínas de modo universal. O feijoeiro já se recuperou do choque, é um resultado que deve lucrar espaço agora que as condições de oferta estão favoráveis”, explicou.
O economista espera queda nos preços de legumes e hortaliças nos próximos meses, caso não haja nenhum novo fenômeno climatológico atípico. “Já nos hortifrutis de modo universal, hortaliças e legumes, o choque provocado por chuvas em excesso. Tem previsão para que a partir desse inverno o ritmo de chuvas seja reduzido. Logo esse preço a partir da primavera deve se regularizar”, projetou.
Peçanha entende que o aglomerado de subida dos preços evidencia que a pressão inflacionária nesse grupo de provisões já dura pelo menos dois anos.
“Isso é muito grave, pois geralmente os provisões têm um comportamento cíclico na inflação. Mas há dois anos eles já acumulam mais que o duplo da inflação universal. Isso agrava os problemas sociais, além de contribuir para formação de uma memória inflacionária”, pontuou.
Além dos efeitos climáticos que impactaram diretamente a inflação dos produtos alimentícios, Matheus Peçanha citou outros problemas, uma vez que a desvalorização cambial.
“No primícias da pandemia, o dólar chegou a quase seis reais. E o Brasil é um país agroexportador, principalmente exportador de músculos. Quando o dólar fica tão custoso assim, tem mais incentivo a exportar. Esse foi um ponto importante de impacto no preço das proteínas que estão vendo o efeito até agora”, comentou.
O economista também citou que, posteriormente a queda do embargo da China em relação à músculos brasileira, o preço do resultado cá no país voltou a subir.
“Houve um aumento da demanda chinesa e de outros países da Europa, mas principalmente da China, que é nosso maior comprador. Essa demanda ditou o preço da músculos no ano pretérito. Quando a China colocou o embargo da músculos brasileira, o preço estagnou e houve até uma deflação no preço da músculos. Mas, quando o ritmo voltou ao que estava antes do embargo, os preços internos da músculos deram uma disparada”, concluiu.
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